Manipulados | O Livro

O caso Cambridge Analytica e Facebook é um marco por convergir empresas de tecnologia coletando dados de maneira ilegal de seus usuários para venderem ao marketing imoral de campanhas eleitorais que ameaçam democracias.

Narrativas Digitais e Colonialismo de Dados

No documentário Privacidade Hackeada (Netflix), Brittany Kaiser já é a guia pelas denúncias mas é no livro “Manipulados” (Harper Collins) que conta os detalhes.

Uma testemunha e cúmplice do marketing político digital do mal baseado em exploração da privacidade na Internet (isso existe ou utopia minha?), ciência de dados, psicologia cognitiva, disseminação de fake news e difamação de adversários políticos com anuência do Facebook.

Acompanhar a história de Brittany é seguir uma linha do tempo pela evolução da política nas redes sociais e polarização de ideologias, pois ela desde jovem participou em campanhas progressistas pelos direitos humanos.

Inclusive na equipe de mídias sociais do senador Barack Obama, cuidando da fanpage dele no Facebook, apagando comentários racistas, etc.

Após voluntariado em ONGs na Africa, recebeu proposta tentadora: ser consultora em uma empresa que vendia “pesquisas comportamentais” baseada em dados.

A profissão da moda que pagaria bem, ajudaria sua família e forneceria a pesquisa para seu doutorado. Então, se antes era voluntária democrata usando planilhas para catalogar e responder milhares de apoiadores.

Após conhecer Alexander Nix (CEO do SCL Group), ela vendia “comunicação estratégica” baseada em algoritmos preditivos para candidatos na Nigéria; no México; os “leavers” do referendo Brexit e o candidato republicano: Donald Trump.

Mineração de Dados e Microtargeting Comportamental

Segundo o modelo computacional criado por Michal Kosinski para o Centro de Psicometria da Universidade de Cambridge em 2012, com 68 “curtidas” de um usuário do Facebook, ele poderia prever: sua cor de pele (95%), sua orientação sexual (88%) e sua afiliação ao Partido Democrata ou Republicano (85%).

Aplicando esse modelo preditivo em um conjunto de informações, como: idade, raça, religião, região, orientação sexual, gastos no cartão, leituras, mobilidade, programas assistidos; foi possível identificar personalidades, gostos, valores e medos de cada eleitor.

A partir da personalidade, o microtargeting comportamental entrava em ação para saciar ou amedrontar gatilhos psicológicos através de posts pagos segmentados no Facebook disfarçados de notícias na timeline.

Milhares de publicações favoráveis para o candidato desejado e repetidas fake news contra os adversários, até o usuário clicar para ler.

Modus operandi seguido por candidatos presidenciais em diversos países, com destaque no Brasil. Um “mundo virtual” moldado a interesses ilícitos.

Brittany alega que somente fechava contratos com clientes, não teve acesso a base de dados e quando questionou a origem destes, lhe garantiram que eram obtidos de forma legal em cada país que atuavam.

Ela não é tão inocente e faz uma autocrítica durante sua escrita sobre os valores morais que corrompeu por se deixar seduzir pela luxo da aristocracia inglesa de Nix, o poder republicano e a promessa de grandes comissões.

Reflexões que a fizeram delatar seus chefes e virar ativista pela proteção de dados, fundando a Own Your Data que conscientiza sobre o controle sobre os nossos dados.

Entre a rotina digital rastreada e fake news disseminada, Brittany nos instiga a enxergar além da tela, retomando o controle da nossa persona digital.


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“Se optarmos por ficar à toa, as realidades distópicas de 1984 e Black Mirror se tornarão ainda mais reais do que são hoje. O tribalismo vai crescer, a linha que separa a verdade da manipulação ficará menos nítida, e o direito à nossa identidade digital, o ativo mais valioso do mundo, jamais será recuperado.

A hora de agir é agora.”


Manipulados: como a Cambridge Analytica e o Facebook hackearam a privacidade

Brittany Kaiser; Bruno Fiuza e Roberta Karr (Tradutores); 368 páginas.

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