O quanto confiamos em uma tecnologia está moldando nossos instintos humanos?
Você já se viu perdido na estrada seguindo a rota do GPS por algum aplicativo?
Por que seguimos em frente quase convictos que o caminho está errado e não paramos para perguntar a outro humano que conhece a região?
Essas dúvidas bem como anseios e sonhos digitais são explorados no interessante: A Nova Idade das Trevas, de James Bridle, publicado pela Todavia Livros.
“Conforme o mundo à nossa volta se torna mais tecnológico, nosso entendimento sobre ele parece diminuir. Essa tendência é reforçada pela crença de que seria possível compreender a nossa existência através da computação, e que o acúmulo de dados será suficiente para construir um mundo melhor.”
Segundo o autor, estamos perdidos em um mar de informação, divididos pelo fundamentalismo, pelas narrativas simplistas e por teorias conspiratórias. Por isso quando “lógica de programação” começa a ser lecionada nas escolas vemos como o pensamento computacional é predominante no mundo atual e impulsiona tendências e interações, nem sempre positivas na sociedade, criando dependências reais.
Não é preciso saber programar, porém assim como a Filosofia lida com o que a ciência não pode explicar, a alfabetização em sistemas já é realidade lidando com um mundo que se não é computável, se molda irrevogavelmente pela computação.
Igualmente, nós conectamos à uma nuvem computacional; trabalhamos, pensamos e guardamos nossa vida digital lá; e só a notamos quando não funciona. Ou seja, vivenciamos o tempo todo sem entender de fato como funciona.
Conclui James Bridle que conforme a cultura digital fica mais rápida, de mais largura de banda e mais baseada e imagens, também se torna mais custosa e aniquiladora. Pois exige mais insumo e energia (afetando o meio ambiente), afirmando a supremacia da imagem (dados visuais) como uma “representação distorcida” do mundo.
Discutindo impactos ambientais e a tecnologia condutora da desigualdade em vários setores pela automação, o autor usa exemplos da Uber e Amazon como exploradoras através da lógica inumana da máquina aplicada a seus operários para afirmar:
O aplicativo é um controle remoto para outros, mas cujo efeitos no mundo real são quase impossíveis de ver. A obscuridade tecnológica reproduzindo o desprezo corporativo, o desconforto político e a ideologia capitalista do máximo lucro.
Analisando a história da arte, da tecnologia e dos sistemas de informação, esse livro revela as nuvens escuras que se acumulam sobre nossos sonhos digitais. Pois o futuro já não é mais como era antigamente e um olhar otimista pode não refletir o presente.
Apesar do título sombrio, o pensamento que a tecnologia reflete o mundo real, não o ideal, é importante para que estejamos aptos a pensar com clareza e decidirmos se seguiremos a rota do GPS ou pediremos ajuda no posto Ipiranga.
A Nova Idade das Trevas: A Tecnologia e o Fim do Futuro
James Bridle; Todavia Livros; 320 páginas; 2019.
Compre o livro | Teorias da Conspiração na Nova Idade das Trevas