
Determinismo é “o princípio segundo o qual tudo no universo, até mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma ilusão subjetiva.”
Assim, se eventos acontecem por estarem escritos e não por escolhas, talvez se tivéssemos todas informações das leis do universo e a capacidade de processá-las extraindo suas decisões pudéssemos prever o futuro e até voltar no tempo.
Essa é a premissa da série DEVS (FX/Hulu), um thriller tecno-existencial de Alex Garland (Ex_Machina; Aniquilação; Extermínio) que idealizou, roteirizou e dirigiu.
Localizada em San Francisco, a produção faz de Amaya uma Big Tech reconhecível comandada pelo cerebral Forest (Nick Offerman), que tem no projeto secreto DEVS sua obsessão. Reunindo os melhores programadores para desenvolver algo poderoso e indecifrável com computação quântica, que poucos sabem do que se trata.
Sergei (Karl Gusman) é convidado para participar do time e desaparece, levando a sagaz Lily (Sonoya Mizuno) entrar numa trama de conspiração tecnológica e espionagem industrial envolvendo governo, russos e ex-namorado hacker.

“As pessoas ficaram assustadas com as empresas tecnológicas. Muito assustadas.
A Inteligência Artifical criará 60% de desemprego.
O Instagram faz as pessoas se sentirem uns merdas.
O Twitter as fazem se sentirem insultadas.
O Facebook destruiu a democracia.
Eles usam você.” — (Fala de Senadora em DEVs)
Detalhar a minisérie estragaria a experiência de ver a brilhante união de sentimentos humanos e conceitos computacionais a partir do clima de suspense e perseguição que leva o espectador questionar ações extremas dos personagens.
Como a da prodíga programadora Lyndon (Cailee Spaeny), representando a utopia que sua solução poderia ser aplicada a todos e encontrando a desilusão em Forest que idealizou DEVs em busca de fantasmas pessoais.
Nossas escolhas nos definem? E se não tivéssemos escolhas? Qual o poder de um algoritmo sugestivo? Quão bem os meus dados me representam?
Nesses “diálogos filosóficos” que podem soar pretensiosos é onde está a originalidade e relevância da obra ao reproduzir o que é discutido nos laboratórios e redes sociais.
Eu acredito que Garland faz em oito episódios seu trabalho mais profundo e humano. Acertando ao colocar Big Data e Algoritmos Preditivos no centro da narrativa questionando o livre-arbítrio daqueles personagens que creem na tecnologia como solucionadora de suas angústias e erros.
Um personagem questiona “O que é DEVS?”, a resposta é “DEVS é tudo.”