O pacote de serviços Amazon Prime lançado no Brasil semana passada pela varejista americana demonstra bem o seu diversificado catálogo digital de produtos.
Desde entrega expressa até acesso a livros, músicas, filmes e séries onde estivermos.
No podcast já comentamos o marketplace para vendedores; o modelo de negócios de Jeff Bezos e como a sua tecnologia inovou o varejo, logística e literatura. Escutem!
Agora vamos listar alguns conceitos computacionais e ideias aplicadas lá que viraram padrão no e-commerce; na programação de algoritmos e nos serviços web.
Web Personalizada por Histórico
Em 1995, Bezos em busca de investidores vendia o potencial da Internet e sua loja com o seguinte argumento: “uma experiência de compra mais conveniente que as megalojas superlotadas onde os vendedores ignoravam os compradores.“
Ele previu que a Amazon poderia desenvolver versões personalizadas do site, com base nas compras anteriores de cada consumidor. Profetizou também que a banda larga permitiria espaço na prateleira virtual para seleção infinita de produtos.
Uma loja ao mesmo tempo generalista (vende tudo) e especifica (conhece o cliente).
Programa de Afiliados
Sabe aqueles links para comprar na Amazon contidos em blogs literários e outros sites que encaminham usuários e recebem comissão pela indicação?
Esse “programa de associados” criou toda uma indústria bilionária de compartilhamento, permitindo a empresa estender seu alcance pela Internet e se estabelecer como referência perante a concorrência que começava a se formar.
Se observarmos que até hoje pouca publicidade dos seus produtos é realizada, a confiança no impulso natural pela rede foi uma aposta inteligente e barata.
Comparação de Preços
O Junglee foi o primeiro site de comparação de preços da Internet, adquirido por Bezos em 1998 e incorporado como Shop The Web. Ao buscar algo na Amazon, o cliente também recebia preços e links do produto em outras lojas virtuais.
A funcionalidade durou poucos meses no site por rejeição das equipes envolvidas. Porém Ram Shriram, diretor de operações da Junglee, orientava dois alunos de Stanford que tentavam reinventar a busca na Internet: Larry Page e Sergey Brin.
Shriram foi um dos investidores da pequena empresa de seus orientandos: o Google. Influenciando Bezos a se tornar um dos investidores originais do seu futuro rival.
O Junglee foi relançado em 2012 na Índia como site comparador de compras.
Compra com um Clique (1-Click)
Peri Hartman, designer de interfaces, desenvolveu um sistema que carregava informações do cartão de crédito do cliente já inseridas numa compra anterior, o endereço de envio, e depois possibilitava executar a compra com apenas um clique.
Ao facilitar comprar on-line, a Amazon acumulou mais alguns milhões em receita e se distanciou das rivais. O registro de patente foi aprovado em 1999 como 1-Click, dando inicio a um debate sobre como proteger legalmente sistemas tecnológicos.
Em 2000 licenciou a patente para a Apple e tentou utilizá-la, sem sucesso, contra o eBay que rivalizava vendendo de tudo através de terceiros por leilões a preços baixos.
Marketplace e Avaliações
“Se não sabíamos nada sobre o negócio, lançávamos a categoria no Marketplace, trazíamos vendedores, observávamos o que eles vendiam, entendíamos o que eles faziam e, então, entrávamos naquele segmento.”
Amazon permite publicação de comentários positivos ou negativos e coloca produtos usados ao lado dos novos, para que os consumidores possam se informar antes de comprar. Oferecendo preços baixos, poder de decisão e entrega dentro de prazos precisos aos clientes; subverteu as leis tradicionais do varejo.
Pesquisa em Livros Digitais (Search Inside the Book)
Udi Manber, professor de ciência da computação, trocou Yahoo pela Amazon e recebeu um título obscuro: “diretor de algoritmos“. Sua missão: usar a tecnologia para aperfeiçoar as operações da empresa e inventar novas funcionalidades.
Um dos seus projetos: permitir aos consumidores folhearem as primeiras páginas e depois aperfeiçoar a funcionalidade para procurar palavras ou frases em qualquer livro digital.
Depois de digitalizados, a equipe de Manber submetia os arquivos a um software de reconhecimento de caracteres para converter as imagens digitalizadas em texto, permitindo que os algoritmos de busca pudessem navegar por ele e indexá-lo.
Para impedir que clientes lessem de graça, disponibilizavam apenas trechos do conteúdo (uma ou duas páginas) antes e depois de cada termo pesquisado. Alem de restringir acesso aos arquivos só para cadastros com cartão de crédito.
Um processo computacional intensivo para a época (2003) que acelerou a digitalização no mercado editorial e desenvolvimento de e-readers como Kindle.
Amazon Web Services (AWS)
No início de 2002, o editor de livros de informática Tim O’Reilly se reuniu com Jeff Bezos e sugeriu que a Amazon disponibilizasse seus dados de vendas para que eles e outros editores identificassem tendências ajudando-os a decidir o que publicar. Argumentou que a empresa estava atuando como destino isolado na Internet.
Não convenceu sobre como Amazon ganharia com isso mas intrigou Bezos ao sugerir APIs (Interfaces de Programação de Aplicativos) que permitissem a programadores terceiros coletar dados sobre preços, produtos e classificação de vendas.
A equipe que estava trabalhando em APIs para dispositivos móveis acessarem Amazon foi convocada para conversar com O’Reilly, que ressaltou a relevância de uma plataforma que compartilha tecnologias entre a comunidade.
Bezos acreditou na filosofia de abertura da Internet e apoiou a criação de API’s que permitissem a desenvolvedores usarem a página da Amazon. Logo, outros sites puderam publicar seleções do catálogo, incluindo preços e descrições detalhadas dos produtos, além de usar sistema de pagamento e carrinho de compras.
Naquele mesmo ano, aconteceu a primeira conferência com desenvolvedores e todos os intrusos que tentavam hackear os seus sistemas foram convidados. Assim, os desenvolvedores se juntaram aos clientes e aos vendedores externos como público.
A equipe responsável por isso recebeu um nome formal: Amazon Web Services.
Atualmente, o AWS é parte da comercialização de infraestruturas computacionais, (armazenamento, bacos de dados e capacidade de processamento). Exemplo: Pinterest e Instagram alugam espaço e ciclos nos computadores da Amazon para conduzir suas operações como se os servidores ficassem nos seus escritórios.
Até a Netflix usa o serviço para fazer o streaming de filmes para seus clientes. Bem como a NASA e CIA, clientes governamentais que utilizam a “computação em nuvem” popularizada pelo AWS e entremeado na vida da comunidade tecnológica.
A missão do Amazon Web Services é: “permitir que desenvolvedores e companhias usem serviços da internet para construir aplicativos sofisticados e escaláveis.“
A Empresa de Tecnologia
No livro “A Loja de Tudo”, o autor Brad Stone questiona: “Como uma varejista on-line desenvolveu um negócio tão distinto do seu? Como o grupo que trabalhava nas APIs para comércio evoluiu para uma vendedora de infraestruturas de alta tecnologia?“
Talvez tenha sido os servidores ociosos nos períodos fora Black Friday e Natal, talvez tenha sido a importância dada aos “programadores alquimistas”, ou talvez a principal mudança tenho sido na própria imagem de empresa refletida no espelho.
Ampliando o alcance do que deveria ser a loja que vende tudo com produtos “diferentes” como instâncias de processamentos e terabytes de armazenamento, a Amazon virou um alvo complexo para rivais varejistas e atraiu uma legião de programadores que procuravam resolver os problemas mais interessantes do mundo.
Por fim, se tornou a empresa de tecnologia que Jeff Bezos sempre imaginara.
Mais Sobre
- A LOJA DE TUDO: JEFF BEZOS E A ERA DA AMAZON
- DESORIENTECH #02 – AMAZON: A SUPER-LOJA DIGITAL
- AMAZON PRIME CHEGA AO BRASIL | TILT UOL
- AMAZON DERRUBA AÇÕES DE CONCORRENTES NO BRASIL | FOLHA